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Artigos | 2015-02-26

O Inverno do nosso Descontentamento.

Now is the winter of our discontent. Made glorious summer by this sun of York. Richard III (1.1.1)

Este é o Inverno do nosso descontentamento relativamente a uma solução justa e equilibrada para todos aqueles que acreditaram na solidez do Grupo Espírito Santo e a ele entregaram as suas poupanças. Na verdade, não se vê qualquer vontade de contribuir activamente na busca de soluções por parte dos agentes com responsabilidades na supervisão bancária, no mercado de capitais ou no destino das instituições bancárias envolvidas – das que permaneceram ou das que lhe sucederam. Um problema que, acrescente-se, esses agentes criaram ou para o qual contribuíram, por acção ou omissão, e de que os únicos prejudicados são precisamente aqueles cujos interesses, em última instância, lhes competia defender.

Não nos atenhamos somente às palavras cuidadosamente escritas em cada uma das deliberações do Banco de Portugal que decidiram sobre a resolução do Banco Espírito Santo, nem esqueçamos o que os contratos celebrados com os seus clientes efectivamente estipulam.

Não olvidemos as circunstâncias em que esses produtos foram contratados ou em que foi aprovado, subscrito e realizado o aumento de capital do Banco Espírito Santo, nem as afirmações feitas por essa altura, não pelos políticos - que são actores secundários desta tragédia-, mas precisamente pelo Banco de Portugal e pelos responsáveis do Grupo Espírito Santo.

Como também temos de ter presentes os casos dos que conscientemente investiram em acções que sabiam estar a desvalorizar-se com um intuito meramente especulativo.

Se olharmos para a questão para além da circunstância de cada um, vemos claramente que é preciso encontrar uma regra, um diapasão, para o qual convirjam os interesses apenas aparentemente divergentes dos lesados e das instituições reguladoras, porque estas não devem, nem têm de existir para se defenderem a si próprias, mas os interesses gerais do mercado, concretizados depois nos interesses de cada um juridicamente tutelados.

Por isso, aos que hoje andam especialmente preocupados em alijar responsabilidades, próprias ou das instituições que circunstancialmente representam, cumpre lembrar o tempo em que, para acalmar os ânimos, prometeram tudo considerar para encontrar uma solução para aqueles que, sem responsabilidade, nem conhecimentos, muito perderam.
Hoje soam a palavras vãs, tal e qual as de Ricardo III, então ainda Duque de Gloucester, que efectivamente pretendia matar aquele que publicamente dizia defender e que em privado se regozijava com a doença do rei a que jurava fidelidade.

Por ora, este é o Inverno do nosso descontentamento. E não chegou ainda o que, nem quem, o torne em “verão glorioso”. Por manifesta falta de vontade.

 
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