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Notícias | 2014-03-08

Carlos Lucena em entrevista ao Jornal de Negócios. «O nosso objectivo é sermos um escritório nacional».

Carlos Lucena, Sócio da Telles de Abreu e Associdos, em entrevista ao Jornal de Negócios. Leia Aqui a entrevista.

No Porto, são "conhecidos e reconhecidos". Em Lisboa, "há um nicho de pessoas" que sabe quem são. Tornar o escritório com pendor regional na sociedade Telles de Abreu conhecida em todo o País é um dos objectivos. Foi por essa razão que integrou agora a equipa lisboeta da Prolegal e se prepara para avançar com novos reforços, noutras áreas de prática. É uma estratégia que passa também, como adianta Carlos Lucena, pela mudança da imagem institucional e pela simplificação - "Telles" - do nome pela qual a firma é conhecida.

Foto: de Bruno Simão

A Telles de Abreu reforçou recentemente a sua equipa com seis advogados, dois deles como sócios, através da integração de um pequeno escritório de Lisboa. Qual foi o propósito dessa aposta?

Decidimos avançar com este processo há cerca de ano e meio, para conseguirmos dar cobertura  a um maior número de especialidades do Direito. A partir daí, conversámos com uma ou duas entidades e surgiram-nos os nomes do Henrique Moser e do Filipe Lobo D'Ávila [ex-secretário de Estado da Administração Interna], sócios da Prolegal.

A opção pela Prolegal deveu-se a que razões?

Não havia qualquer incompatibilidade em termos de clientela. Os princípios e valores que defendiam são os nossos. Permitiam-nos ter sócios verdadeiramente lisboetas, integrados no meio. Por tudo isto, achámos que era fácil integrá-los.

Que áreas de actividades reforçaram na Telles de Abreu?

Além de uma presença forte no direito das sociedades, tinham uma área de imobiliário mais forte do que a nossa e, portanto, nesse aspecto vieram reforçar a dimensão de tudo quanto diz respeito ao imobiliário e tem uma presença forte na área do direito das sociedades.

Novas áreas de prática, maior dimensão, reforço da presença em Lisboa e até, como é visível na vossa página online, uma mudança na imagem da sociedade. Qual é o objectivo da Telles de Abreu para decidir avançar com todas estas mudanças nos primeiros dois meses de 2014?

O nosso objectivo é sermos um escritório nacional.

Na prática, a sociedade já tem âmbito nacional. Ou não?

Já somos uma sociedade de âmbito nacional. Contudo, para aperfeiçoar essa característica precisamos de dar melhor cobertura a algumas áreas de actividade, algo que, defendo, será o nosso próximo passo.

A que áreas de prática se refere?

Propriedade industrial e tudo quanto diz respeito a esta área. Bem como concorrência. Temos pequenas equipas nessas áreas e vamos precisar ao longo de 2014 e 2015 de as reforçar, para ganharem massa crítica. Para que isso suceda, é preciso um conjunto de pessoas a reflectirem, a interagirem e a contactarem com clientes e com as universidades.

Querem integrar equipas de advogados já a trabalhar nessas áreas?

Pretendemos integrar pessoas já com alguma experiência. Não necessariamente 'estrelas' já firmadas na actividade, mas pessoas que tenham vocação, desejo de investigar e que queiram ser ajudadas e ajudar-nos, no sentido de terem, a médio prazo, uma formação de excelência.

Porque decidiram avançar igualmente com uma mudança da vossa imagem institucional?

No âmbito deste processo de reformulação de imagem, queremos continuar a ser Telles de Abreu e Associados. Mas vamos dar uma importância mais relevante ao nome Telles. É mais simples, não permite confusões. Afirma-se melhor internacionalmente. Somos amplamente conhecidos e reconhecidos no Norte do País. Em Lisboa há um nicho de pessoas que nos conhece. Queremos ter, a nível nacional, um grau de reconhecimento público equivalente ao que temos no Porto.

Também querem, como disse, que o nome Telles seja mais conhecida lá fora. Está subjacente a esta mudança alguma estratégia de internacionalização?

Não podemos fazer tudo ao mesmo tempo. Somos muito cuidadosos nos investimentos. Toda a nossa actividade é suportada pelos sócios. A nível internacional, com excepção de estarmos a tentar investir em Angola, que é um mercado importante, não temos feito muito mais.

Passaram a estar ligados a uma aliança internacional de advogados.

Há três meses, demos sequência a uma aliança internacional de advogados, promovida por um escritório espanhol e outro francês, com a qual contamos para nos afirmarmos na Europa, na América Latina e, com o contributo da própria Telles de Abreu, em África. Mas neste aspecto, quero salientar que a nossa clientela é muito regrada a nível de custos.

"A clientela é muito regrada a nível de custos"... isso significa o quê?

Significa que quando faz apostas de internacionalização, não é para duplicar custos de advogados, de ter um advogado português no Brasil. Hoje há maior necessidade de dar atenção aos custos. Por isso, a nossa intervenção no acompanhamento de clientes em internacionalização, hoje é menor do que era no passado.

No mercado interno, qual é hoje a tipologia dos serviços jurídicos que vos são solicitados?

Hoje acompanhamos reestruturações de endividamento e processos de insolvência num número completamente diferente de antes de 2008. Alguns dos nossos clientes passaram por situações dessas e tiveram naturalmente o nosso apoio.

Foi essa a maior mudança ao nível da vossa actividade?

Temos tido um papel crescente a patrocinar interesses de clientes em processos judiciais ou arbitrais com muita expressão. Hoje, quase todos os grandes processos ligados a aspectos económicos que aparecem nos jornais têm participação de advogados da Telles de Abreu, desde o caso BPN ao caso BPP. A grande mudança aliás foi essa.

Têm participado também em operações de fusões e aquisições. Pelo menos é o que revelam algumas publicações internacionais especializadas nesta área.

Historicamente, por sermos o escritório de maior referência no Norte, temos tido acesso a grandes operações, à escala do Norte, no mercado das transacções e fusões e aquisições. Não digo que tenhamos operações dessas todos os dias, mas temos todos os meses.

Ao nível das insolvências e do desemprego, os indicadores dizem que o norte foi mais afectado pela crise. No contacto que mantêm com os vossos clientes nesta região do País têm recebido sinais de que a situação esteja a melhorar?

No Norte ainda não sinto isso. Sinto uma maior presença de investidores internacionais, quer no que se refere à aquisição de activos - nós trabalhamos bastante com investidores franceses - quer no que diz respeito à instalação de pequenas e médias unidades industriais, mas com excepção disso, ainda não vejo no Porto grandes sinais de recuperação. Posso dizer que se não tivéssemos feito o movimento de vir para Lisboa, teríamos sofrido muito em termos de facturação e de resultados. Lisboa contribuiu muito para que tivéssemos sobrevivido  nestes anos difíceis.

De que forma se tem reflectido a crise ao nível dos serviços jurídicos solicitados?

Essencialmente em dois aspectos. Desde logo, uma maior atenção, um maior cuidado, no recurso aos advogados externos. Hoje, o recurso a um advogado externo é objecto de uma maior reflexão prévia. Por outro lado, os sintomas de crise vêm também do próprio mundo das sociedades de advogados.

Na área das sociedades de advogados? Em que sentido?

Temos clientes tradicionais, de muitos anos, que antigamente não eram confrontados com propostas de outros escritórios e hoje sente-se muito essa concorrência. A verdade é que aparecem muitos escritórios a apresentar propostas com valores de honorários muito baixos. Nunca fomos caros. A matriz de honorários do Porto é diferente da de Lisboa. Não tivemos necessidade de baixar honorários. O que temos necessidade é de estar mais atentos à relação com os clientes e prestar melhores serviços.

Hoje é mais fácil ou mais difícil contratar advogados?

Na verdade, um dos aspectos em que notamos a crise prende-se com a facilidade com que nos tem sido possível ir buscar novos advogados. Há cinco anos era difícil contratar advogados de nível, porque as remunerações eram substancialmente mais elevadas do que são hoje. Não podíamos competir no que se refere ao pagamento de honorários a advogados estagiários, tal como a um muito bom advogado com 30 ou 32 anos. Hoje, fruto dessa redução, conseguimos competir e suponho que pagamos quase ao mesmo nível do que pagam as sociedades de advogados maiores.

De que forma? Como é que os ajudam?

Não sendo muito advogados de casos, sendo sobretudo de clientes, sentimos muito mais os problemas. Um problema de um cliente é naturalmente um problema também nosso. Digo-lhe sinceramente, porque hoje trabalho essencialmente para clientes que são empresas ou grupos de empresas ou empresários que acompanho há 10, 15, 20 anos. Quando há estas fragilidades há um sofrimento partilhado.

[title size="2"]PERFIL[/title]

São passados 30 anos desde que se licenciou em ciências Jurídico-Económicas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Quase tanto tempo quanto o que leva de prática de advocacia.
Especialista em Direito Comercial e Societário e em Direito Financeiro, Carlos Lucena é hoje o managing partner da Telles de Abreu e Associados. São funções que o obrigam a dividir a semana de trabalho entre o Porto, onde a sociedade que dirige nasceu e ganhou nome, e em Lisboa, onde a firma marca presença desde 2008 e onde quer reforçar a sua presença. Em Lisboa e no Porto, a sociedade conta hoje com 63 advogados, dos quais 13 são sócios. Têm ainda nas suas fileiras sete advogados estagiários. Carlos Lucena diz que o objectivo é ganhar ainda alguma massa crítica em áreas como a concorrência e a propriedade intelectual. Isto, de forma pensada e paciente.
"Não podemos dar passos maiores do que a perna", diz num tom pragmático o managing partner da Telles de Abreu e Associados.

(em: Jornal de Negócios - 05-03-2014)

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